Seus pés se afundam na areia, e ela sente o calor da terra que não lhe pertence. Mas como é belo ver a lua fazendo as sombras da vida nessas ondas da areia. Ela realmente se questiona se o seu lugar não é esse. Consegue até imaginar a textura da areia, de tantas vezes que a apertou, angustiada. Dói, os pequenos grãos a machucam.
Entre receio e desespero. Fuja, para onde te pertence, vasto e totalmente seu, você não brilhará e sim criará o seu mundo.
Corra, corra para o mar e não afunde, dance e pule até o sol não ser mais ele.
Seus movimentos são tão territorialistas e fortes que as águas a cercam em filetes. O som é inquietante, não é mais o mar batendo em suas rochas, nem barcos com pessoas dentro falando sobre a vida.
Consegue ouvir? Sua respiração é profunda, quase que sem ar, ela se joga sem ter medo de cair. Escute. Com um nó na garganta e histérica, ela exclama:
"TIRE DE MIM, TIRE DE MIM, DE DENTRO"
O sal bate em seus olhos e dói, como dói, mas não a faz parar de dançar. Tenha dó dessa criatura, olha como chora desesperada nessa imensidão eterna.
Isso a faz lembrar que não importa onde vá, haverá vida, não só apenas nos grãos de areia.
Quem diria que seu brilho não é nada além do seu propósito.
E na 4ª noite.
Vitoriosa, ela afunda.
Afunda-se para os peixes finalmente se juntarem ao seu corpo, e é nesse momento em que, felizmente, sorri. Ria, criatura, ria, pelo sal, pela terra, pela água, por aquilo que tanto odeia de seu vazio.
Dance novamente. Mas agora cante, faça o som das ondas batendo nas pedras, não tire de ti, faz parte, cresça onde estiver.
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